quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

O Rei das Pedras


Somente quem surfa no Guaecá conhece esse termo: “ hoje o mar está bom lá nas Pedras”. ‘ Pedras’ é como os surfistas chamam o canto direito da praia de Guaecá que costuma quebrar ondas perfeitas em certo período do ano, precisamente no inverno, quando o swell (ondulação) são maiores e irregulares.Essas ondulações ao encontrarem a ponta do costão do Guaecá ganham uma excelente formação e alinhamento, o que as torna uma das ondas mais disputadas da região. Não tem como descrever a sensação de pegar uma onda colada ao costão e surfá-la até um pouco depois do riozinho, sair do mar e caminhar até as Pedras novamente.
Há alguns anos atrás creio que devido as mudanças climáticas ou algum swell oceânico esse local passou a receber uma ondulação perfeita constante, toda semana era uma mar mais perfeito que o outro, parecia que as Pedras estava com fundo de coral ou artificial, pois as ondas eram como as de filmes, simplesmente perfeita, uma parecida com a outra e sempre quebrando no mesmo lugar, tornando-a disputadíssima e difícil de surfar devido aos números de surfistas presentes.
Para uma pessoa essas ondas eram sagradas, sempre que elas quebravam ele era um dos primeiros a chegar, o xerife do pico, a pessoa que todos respeitavam e impunha ordem no local.
Estou falando do grande surfista e de uma pessoa maravilhosa que infelizmente nos deixou cedo, o Mauro do Pontal ou simplesmente como todos os chamavam Maurão. Muitos brincavam que para surfar nas Pedras, antes tinha que pedir permissão para o Maurão. Para mim ele nunca foi o xerife do local, Maurão foi e sempre será o Rei das Pedras do Guaecá. Tinha admirado gosto pelas ondas grandes e tubulares. Seu estilo era inconfundível, descia a onda já assoviando com as pernas praticamente juntas distribuindo rasgadas e batidas pela extensão da onda, com a bermuda sempre abaixo da cintura. Uma pessoa maravilhosa que sempre procurou ajudar os amigos e pessoas próximas a ele.
Lembro de um momento de grande felicidade, quando comprou sua primeira “prancha mágica” que pertencia ao meu irmão, depois de muita insistência e alguns trocados. Ao receber a prancha, ele perguntou se meu irmão tinha certeza que queria vendê-la, deu um beijo na prancha, agradeceu e saiu com uma felicidade de dar inveja.
Maurão as Pedras já não é mais o mesmo pico sem você!

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